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A tradicional Poncha da Madeira |
A origem da Poncha da Madeira está envolta em pontas soltas.
O ponche
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O ponche (créditos: Pixabay) |
Das várias pesquisas que fizemos de escritos diversos, existe uma que me atrevo a descartar porque não faz sentido, sendo a única similitude o nome parecido. Refiro-me à história da nossa poncha assentar na bebida indiana ponche, lá conhecida como paanch, uma palavra Hindustani (do norte da Índia) que significa cinco. Os ingleses chamaram-lhe punch.
E referia-se a 5 devido ao número
de ingredientes da receita original: água, vinho, fruta, sumo de limão e
especiarias.
Posteriormente, viria a ter outros
ingredientes como araca, um licor indiano forte, considerado uma das bebidas
espirituosas mais antigas, muitas vezes substituída por rum. Chá preto, lima ou
sumo de laranja amarga e açúcar, foram outros elementos que também passaram a
fazer parte dessa lista.
As únicas semelhanças com a nossa Poncha
da Madeira assentam nos toques finais daqueles ingredientes todos: o sumo ou a casca ralada de um limão natural.
De resto, eram usados matérias especiais para conferir um sabor caraterístico a alguns tipos de ponche que
incluem anis estrelado, laranja, gengibre, baunilha e cravinho.
Outro fator divergente era a forma
de servir aquele cocktail: quente, sendo aconselhado que, durante a preparação,
a bebida deve ser ligeiramente aquecida, sem ferver, para preservar o sabor, o
aroma e o álcool.
Não menos importante do que estas
referências temos um fator relevante que era a pouca assiduidade das naus da rota
da Índia à Madeira, que acontecia mais em ocasiões esporádicas devido ao mau
tempo.
Assim, a única "herança" poderá ser o nome e trazido pelos ingleses.
Acerca da origem da bebida mais icónica da Madeira nos tempos atuais para quem visita a ilha, até este ano havia pouca literatura que espelhasse bem como tudo começou. Felizmente, a Casa do Povo de Câmara de Lobos lançou o livro "História da Poncha - Génese, evolução e atualidade", que faz luz acerca de algumas vertentes.
Pela nossa parte, admitimos que tenha começado de uma forma de fazer e evoluído para o que hoje temos como a matriz da Poncha da Madeira. Ponto assente é que, com grande grau de proximidade com a realidade é iniciou com aguardente, açúcar e sumo de limão.
Depois, a própria obra literária de Carlos Barradas, a exigir uma leitura cuidada, mostra as muitas leituras acerca da poncha, sendo conhecida como tal desde a segunda metade do século XIX.
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(créditos: Pixabay) |
Existe ainda uma outra história apontada na origem da poncha é que teria chegado à Madeira durante as ligações antigas, demoradas.
O que se diz é que, para prevenir
problemas de saúde como o escorbuto, os barcos vinham com barricas de aguardente
para preservar os limões que ajudariam a tripulação poder consumir vitamina C, sem que aqueles frutos se estragassem. Daqui a combinar estes ingredientes com açúcar
ou mel de abelha, estaremos numa probabilidade exequível, mas que carece de sustentação.
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(créditos: Pixabay) |
Há igualmente a ligação da origem da Poncha da Madeira aos pescadores de Câmara de Lobos que, como forma de prevenção das viagens para a captura de pescada, a tomavam como profilaxia da gripe e outras doenças.
Acreditamos que esta poderá estar
na origem da bebida icónica, e até é de admitir alguma ligação com a versão anterior
da conservação do limão.
Seja como for, crê-se que o crescimento
e proliferação da bebida pela ilha da Madeira aconteceu a partir daquela localidade típica.
De qualquer forma, há muitos anos que
a poncha se bebe por toda a ilha, como prova o ‘Elucidário Madeirense’, publicado
em 1921, resultando de um projeto coordenado pelo padre Fernando
Augusto da Silva (1863-1949), por ocasião das comemorações do 5.º centenário do descobrimento da Madeira.
A dado momento, numa referência
aos homens que transportavam pessoas em redes, carregadas aos ombros, lê-se o
seguinte: "No resto da Ilha, usa-se geralmente à rede, suspensa de uma vara,
que assenta nos hombros de dois homens. Esta maneira de viajar é muito
despendiosa, já pelo jornal dos homens (três ou quatro que se revezam para
transportar uma pessoa), já porque é necessário dar-lhe frequentemente de
beber. Não se passam 3 kilometros que elles não parem nas tabernas, sempre em
abundância por toda a Ilha, para beberem a poncha (mistura de aguardente, água,
assucar e casca de limão) (…)."
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